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sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Carona, o Desmaio e o Aumento

Histórias que se repetem... 

A História do aumento da passagem de ônibus em Santa Maria me fez lembrar outras duas histórias que refletem o descaso da Associação dos Transportadores Urbanos- ATU para com os usuários do sistema SIM implantado na cidade.
A primeira História tem a ver com uma mão, sim, uma mão idosa levantada no meio da escuridão da Universidade Federal de Santa Maria.
 Já passava da meia noite e eu ainda estava na Universidade devido a uma reunião que havia se estendido, sabendo que não poderia contar com ônibus, pedi ao meu pai que fosse até lá e me buscasse (por que eu ainda tinha essa alternativa).
A Universidade à noite é estranha, pouco barulho, pouca movimentação, tudo escuro, quase ninguém ali, QUASE ninguém... Foi quando vimos uma mão que fazia sinal de carona, em frente ao Hospital Universitário de Santa Maria – HUSM, abrigada pela parada de ônibus, irônico não? Era uma senhora pedindo carona na parada de ônibus. PEDINDO CARONA NUMA PARADA DE ÔNIBUS!
Ao ver aquela mão levantada não pensamos muito, seria desumano da nossa parte deixar aquela senhora ali, no frio, no escuro, sozinha, sem chances de pegar ônibus para voltar para casa. Demos a carona...
No carro contou-nos que havia ganhado um neto, que passará o dia todo no Hospital com sua filha que havia dado a luz naquela noite e ela ali na parada esperando alguma forma de voltar para casa. Com toda vergonha do mundo, pediu que a deixássemos no centro e que de lá ela tentaria pegar outro ônibus para sua casa, na vila Urlândia. Contrariada, não deixamos que isso acontecesse... Já passava da meia noite e fomos levá-la até sua residência.
Pedindo milhões de obrigadas e ofertando várias bênçãos a nós, ela desceu do carro e entrou em sua casa. Aquilo me incomodou profundamente...
A segunda História foi mais perturbadora ainda e se passou no mesmo local. UFSM, num calor de 40 graus, ônibus Bombeiros perto das 17 horas lotado, a sensação de estar dentro de uma lata como sardinha.
As pessoas, como sempre, saíram correndo para pegar o ônibus e um assento no mesmo. Eu e a minha irmã ficamos pra trás e consequentemente, em pé.
Conversávamos no ônibus, o calor era imenso, assim como o número de pessoas ali, foi quando senti a mão dela me puxando pelo braço e em poucos segundos ela havia desabado em cima de algumas meninas ali sentadas. Fui correndo ajudar ela que estava branca desmaiada dentro do ônibus. Não demorou muito pro alvoroço começar. Uns começaram a emprestar água, outros cederam o lugar, o ônibus fez retorno para deixar-nos próximo a um hospital e a confusão estava armada. Muitas pessoas gritando, querendo saber o que havia acontecido, outros indignados por estarem atrasados... Passamos o resto da tarde no Hospital e aquela linha seguiu seu rumo.
Esses fatos ilustram que o SIM está mais para um NÃO bem grande na cara dos usuários. Não há horários para todos os ônibus, não há lugares para todos os passageiros, não há ventilação nos transportes, não há passagem integrada e por ai vai...
O que me preocupa é saber que essas histórias se repetem, que não são as primeiras a serem contadas e nem serão as últimas a acontecerem. Enquanto isso, seguimos pagando de várias formas pelas más condições do transporte na cidade e pela ganância das empresas de ônibus. Pagamos com cansaço, pagamos com dinheiro, pagamos com suor, pagamos com desmaios...
As pessoas que sugerem e executam os aumentos, certamente não andam de ônibus, nunca passaram por situações como essas contadas acima. Será o quarto aumento de passagem realizado no mesmo mandato, as empresas só sabem calcular o quanto querem ganhar, não sabem calcular o número dos problemas com transporte, não sabem calcular o número de passageiros insatisfeitos, nem o número de passageiros que estão contra o aumento da passagem. Certo é quem disse uma vez que o prefeito devia representar os interesses da população, não os das empresas.

  

Aqueles que têm coragem de protestar e contestar o aumento, são tratados como “vândalos” pelos governantes e pela mídia, ainda falam que somos o “Joio que deve ser separado”, que “não estamos aptos ao convívio em sociedade” e que somos “mal educados”. Palavras de Manoel Badke, vereador de Santa Maria...
 
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